NOTAS SOBRE O CAPITALISMO 4.0 E A DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA (PARTE 2/5)
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Texto sobre economia, escrito por um não-economista, mas que mesmo assim pode valer a pena ser lido.
Aquilo que chamamos de mercado pode ser descrito como a troca de produtos e serviços (objeto) por dinheiro (instrumento de troca). Por esta definição, o rendimento do próprio dinheiro também pode ser considerado um serviço.
Em se tratando de produto ou mercadoria, até um determinado momento da história, a reprodução do capital se deu na forma de dinheiro produz mercadoria, que produz mais dinheiro. Nesta equação, a força de trabalho humana estava essencialmente envolvida e nisso consistia a chamada função social do modo de produção capitalista. Ou seja, a geração de trabalho e renda era uma consequência salutar do processo de reprodução do capital.
O problema é que com o fim do Acordo de Breton Woods (1971) o câmbio em cada país passou a ser flutuante, o que impulsionou a financeirização, possibilitando assim a especulação com o dólar e as negociações envolvendo derivativos e demais papeis. Com isso, o mercado financeiro aos poucos foi se consolidando como um campo de atuação hegemônico dentro do capitalismo e esta é a situação que vivemos hoje: o trabalho humano não mais precisa estar atrelado à reprodução do capital, pois dinheiro passou a reproduzir dinheiro e aquela função social a que me referi no parágrafo anterior perdeu força.
Paralelamente a esse processo, o desenvolvimento tecnológico viabilizou o pós-fordismo, onde esse mesmo trabalho humano vem sendo substituído pelo trabalho das máquinas.
Mercado, portanto, virou sinônimo de mercado financeiro, o que envolve:
- Mercado de crédito;
- Mercado monetário e de renda fixa;
- Mercado de câmbio;
- Mercado de capitais ou valores mobiliários;
- etc.
Nesse novo mercado, financeirizado, papéis são comprados por outros papéis; o valor das ações não é dado pela produção, mas pela propaganda, marca, fluxo de compra e venda dessas ações; executivos compram ativos para valorizar certas companhias; a especulação é psicológica; o crédito é futuro, é capital fictício, é dinheiro distribuído em cima de um trabalho que ainda vai acontecer... Nesse ambiente, essencialmente especulativo e também ideológico (sim, ideológico!), o dinheiro cresce, mas a produção não cresce.
Por exemplo, no mercado de ações a especulação pode acontecer da seguinte forma: retira-se dinheiro de determinadas companhias, vendendo suas ações e trocando-as por dólar. Consequentemente, essas ações perdem valor para, logo em seguida, serem compradas novamente por um preço mais baixo. Ou seja, especuladores criam o movimento e depois saem dele antes dos outros. O mesmo vale para o tesouro direto, pois quando há um fluxo grande de venda de títulos do governo, esses perdem rentabilidade. Tais operações são feitas em frações de segundos, por máquinas com alto poder de processamento e algoritmos sofisticados.
LADISLAU DOWBOR E OS 4 MOTORES DA ECONOMIA
Para o professor Ladislau, em se tratando de medidas anti-recessivas, os aspectos econômicos abaixo listados, que ele chama de "motores", precisam receber cada qual a atenção que lhe cabe, quais importam mais ou menos a nível de Brasil e de acordo com o momento. São eles:
- Mercado interno (1º motor): o que se vende, o que se compra.
- Demandas das famílias (2º motor): do que elas precisam, como elas se integram à economia.
- Setor produtivo (3º motor): o que produzem, no que investem.
- Investimento estatal (4º motor): que pode ser em infraestrutura (coisa que a iniciativa privada não faz) e pessoas (políticas sociais).
As exportações, por exemplo, representam apenas 10% do PIB (Produto Interno Bruto ou conjunto das riquezas). Já o Mercado interno (1º motor) contribui com 60% deste mesmo PIB. Logo, não somos exportadores, ao contrário do que muitos pensam.
Já o problema do 2º motor (demanda das famílias) é que no Brasil tal consumo depende do cartão de crédito, que tem juros altos, definidos pelo BC. Isso deixa as famílias endividadas. Juros dessa magnitude (13,75% atualmente) só existem no Brasil.
Investimentos do setor produtivo (3º motor) também são prejudicados pelas altas taxas de juros. Sendo os juros altos, limita-se os investimentos, gerando assim um êxodo do setor empresarial para o mercado financeiro, onde lá eles permanecem.
O 4º motor também é precarizado, pois quando a dívida pública é paga com uma taxa de juros alta, ela carreia recursos dos impostos para o pagamento do serviço da dívida (juros que vão para os banqueiros, classe média alta e especuladores). Ou seja, nossa arrecadação é "queimada" pelo setor financeiro. Com isso, os gastos sociais giram em torno de 0,5% do PIB. Então dizer que a dívida pública aumenta em função de programas sociais é uma verdadeira desonestidade intelectual, para dizer o mínimo.
Conclui-se, portanto, que no Brasil não se hierarquiza os 4 motores, pois na verdade o PIB cresce e diminui de acordo com o poder de compra das famílias, que representam 60% das nossas riquezas. Por essa razão, reivindicar juros mais baixos faz-se providencial por todas as razões expostas.
Quem tem títulos da dívida pública (tesouro direto) ganha mais com juros altos. A mesma Selic que endivida as famílias é a que gera mais lucro para quem detém esses papéis (banqueiros nacionais e internacionais, classe média alta, fundos de pensão). O governo fica então amarrado, pois se faz investimentos, o serviço da dívida (pagamento de juros sobre juros) que já é alto, aumenta ainda mais, e o resultado é uma economia paralisada (recessão).
O rentismo tomou conta do país, cuja garantia é manter os juros altos, pois são eles que tornam o esquema denunciado pela Fatorelli um esquema lucrativo. O ideal seria juros baixos e investimentos nos 4 motores da economia em conformidade com a demanda.
REFERÊNCIAS
FILÓSOFO PAULO GHIRALDELLI. Mercado é bolsonarista [...] Youtube, 13 nov. 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2v5TOjp5ueI>. Acesso em: 30 jan. 2023.
FILÓSOFO PAULO GHIRALDELLI. PEC aprovada. E agora? Youtube, 7 dez. 2022.<https://www.youtube.com/watch?v=U_AlFrWStvo>. Acesso em: 30 jan. 2023.
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